A Construção Civil e a Pandemia

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Aprendi com Dona Neide Selma – Economista da PUC/GO – nas horas vagas MAMÃE, que a economia é cíclica, pois bem, se assim o é, acreditando ser, notório visto, passamos as análises dos últimos acontecimentos. Ao analisar a vida pregressa econômica do nosso país, percebemos em forma de gráficos uma sequência de ondas, ascendentes e descendentes, picos e depressões sequenciais, como que nunca pudesse sempre crescer tampouco sempre descer, sempre buscando uma estabilidade, uma média, por assim dizer.

Bom, investir no pico é fácil, otimismo carregado de euforia, porém com todos acreditando, mão de obra abundante e cara, matéria prima disponível, alta de preços, concorrência começa a saturar levando todos a decréscimos, em contraponto, enquanto tudo vai de mau a pior, quando o gráfico atinge sua maior depressão, temos queda de preços de insumos e serviços, maior oferta de mão de obra e oportunidades que não surgem durante o otimismo do pico máximo.

Na frieza da racionalidade capitalista, investir na depressão é de fato o mais rentável dos desafios, riscos altos que implicam em rentabilidade maior, investir na construção civil durante a crise é contratar mais por menos, comprar barato e vender melhor, afinal a obra ficará concluída na retomada da economia quando o credito se reestabelece, o índice de confiança sobe e o produto precisa estar disponível para o consumo.

A Construção Civil é a indústria que mais cresce e emprega no Brasil, apesar da Agropecuária segurar nossa balança comercial, essa não emprega como as Construção Civil. Fato é, que os principais créditos carreados de incentivos são os imobiliários (vide CAIXA e BB), sempre que qualquer governo precisa alavancar ou resgatar a economia, pacotes imobiliários são lançados (exemplo: Minha Casa Minha Vida). Se deseja construir e reformar, a hora é agora, enquanto a desconfiança paira, mão de obra barata e disponível, indústria reduzindo margens para sobreviver e mercado se preparando para sair da crise pós pandemia, esteja preparado e com produto na mão #ficaadica.

Nikson DiasArquiteto e Urbanista

QUARENTENA EM DOIS MUNDOS

Por Jorge Romano Netto

Arq. Jorge Romano Netto, Presidente do CAU/RR.
Arq. Jorge Romano Netto, Presidente do CAU/RR.

Muito se fala que depois da covid-19, a humanidade não será mais a mesma. Será? Pelo que estamos vendo, parece que ela está se mostrando a mesma.

Este é um tempo especial, no qual precisamos de serenidade, de esperança, de conforto, de consolo diante de uma doença tão devastadora. Precisávamos de um momento para refletir o tempo que estávamos e ainda estamos vivendo. Um tempo de velocidade, com uma avalanche quase incontrolável de informações. Precisávamos também de um momento, para desacelerar. O COVID=19 veio nos proporcionar essa oportunidade.

Ao mesmo tempo em que paramos e refletimos, vemos que o vírus desnudou, ou melhor, que ele colocou, de forma clara, diante dos nossos olhos a realidade que “teimamos em não ver”.

E o que vemos? Politização do vírus. Parece até que ele virou partido, exploração da doença, para desvios de verbas, superfaturamento de remédios, equipamentos e aparelhos de vital importância para salvar vidas. E o que precisamos num tempo como esse, é união, juntar esforços, para lutar contra um inimigo comum.

É esquisito o clima macabro e desolador mostrado por todas as mídias. Quanto a isso, nada de novo, elas continuam as mesmas, pois as pessoas por trás delas, continuam e vão continuar as mesmas. Na realidade, o que precisávamos de fato, era uma campanha de conscientização que nos trouxesse esperança. Ao contrário, assistimos a todo momento, contagem de mortos, covas escavadas aos milhares e anuncio aquisição de caixões. Um clima de terror, atingindo a parte psicológica das pessoas que estão trancafiadas em suas casas.

Bom, alguns tem casa, outros tem um espaço precário, insalubre, insuficiente para o número de pessoas que “habitam” ali. Juntando baixa estima, escassez, falta de trabalho, falta de perspectiva e com as esperanças demolidas, essas pessoas perdem a imunidade e ficam mais suscetível às doenças.

  O COVID-19 esfregou em nossa cara essa realidade. Também revela que “somos os mesmos e vivemos como os nossos pais” (Bechior).  Mesmo em tempos de pandemia, continuamos (como humanidade) a explorar as situações de calamidade para interesses pessoais.

Nós, como individuo, precisamos pensar sobre esse tempo e aplicar nossos valores morais, espirituais, profissionais e técnicos, assim como os nossos dons e talentos. Temos nossas casas confortáveis, bem iluminada, ventilada, equipada com vários eletrodomésticos, internet, tv fechada, com opções de lazer… ouvimos dizer que a casa é a melhor vacina contra o COVID-19. Para esse mundo com as características citadas. No entanto, precisamos enxergar o outro, aquele que vive no mundo, mas numa realidade completamente diferente.

Ficou muito mais evidente, que temos dois mundos superpostos e paralelos. Um dispõe de infraestrutura de primeiro mundo em contraste com o outro que não dispõe de nada. As habitações do segundo, contrastam com as do primeiro. São denominadas subnormais, sem água, saneamento básico, sem energia e muito menos internet. A única opção, quando tem, é uma tv aberta bombardeando a mente de pessoas que já estão com sua autoestima no chão ainda por cima, assistem atônitas as imagens de covas para terminar de enterrar seus sonhos e se enterrar nelas. Ai questionamos: como podemos dizer que esses tipos de “casas” são vacinas contra o CORONA VIRUS? ou são o lugar de ideal para a proliferação do vírus? Se nossa premissa for a de que quanto mais gente infectada, mais rápido atravessamos a pandemia podemos afirmar que sim, é a vacina. Mas antes de tudo, é o lugar propicio a infecção coletiva.

 Diante disso, qual a nossa ação em relação aos nossos semelhantes? E como profissional da arquitetura, o que podemos fazer em um momento como este? Como podemos nos dispor a ajudar a sociedade, na qual vivemos, a atravessar essa pandemia?

Precisamos de respostas urgentes, porém as ações exclusivas na área da arquitetura e construção não são imediatas. Além do mais, estamos caminhando às cegas. Não sabemos quanto tempo vai durar essa situação. Voamos tateando, tentando achar a saída através das tentativas e erros. Um voo no escuro, pois sabemos muito pouco sobre a doença. Não podemos esquecer quem somos. Fomos formados e treinados para pensar e apresentar soluções.

Sabemos também que somos parte de um grupo multidisciplinar que pensa e trabalha juntos para viabilizar as nossas propostas, por isso a construção da solução é uma obra coletiva que envolve outras profissões.

Estamos diante de um grande desafio. Está em nossas mãos, a possibilidade de promover pelas nossas atribuições e ações, qualidade de vida aos dois mundos citados acima, para que eles se tornem um só, mais justo e mais harmônico. Precisamos dar mais atenção a ATHISAssistência Técnica em Habitações de Interesse Social, para que o segundo mundo esquecido pelo poder público e visto pela maioria dos profissionais como composto por cidadãos de segunda categoria, se torne um nicho de mercado de trabalho e desfrute de qualidade habitacional.

Um discípulo pediu ao seu mestre: Por favos diga-me uma frase que que eu possa usar em qualquer circunstância, para meu consolo. Ao que o sábio respondeu: “TUDO TAMBÉM PASSA. Sua maior dor passa, sua maior tristeza passa, assim como sua maior alegria, também passa”. O CAU-RR–  Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Roraima, vem trazer uma mensagem de esperança para esse momento. É repetir a frase do mestre: “TUDO TAMBÉM PASSA”. E quando passar, estaremos preparados para apertamos as mãos, abraçarmos quando necessário para restabelecermos nossos vínculos. Nosso Estado e nossa cidade terá à sua disposição mais de duzentos arquitetos urbanistas, para transformar seus espaços e suas casas em um verdadeiro lar propicio para termos saúde física, mental, social e psicológica.

Durante a quarentena, estes arquitetos discutiram sobre Plano diretos para termos uma cidade mais justa e desenvolvida, fizeram debates e cursos sobre contratos, sobre meio ambiente, sobre a importância da arquitetura, da casa a cidade, do conforto, da acústica, materiais de construções, móveis, etc. Se prepararam para quando terminar a quarentena, pode servir mais e melhor a nossa sociedade.

Serão novos hábitos, novas manias, mas não podemos esquecer que precisamos uns dos outros, que precisamos da empatia necessária para vivermos em harmonia. Precisamos valorizar a vida em todos os seus aspectos. Para isso tivemos uma formação ampla que atinge várias áreas do conhecimento. Precisamos ser os mesmos, mas com visão diferente.

Arq. Jorge Romano Netto, Presidente do CAU/RR.

 

Boa Vista 25 de Maio de 2020

O Autismo e as Cidades

Por Nikson Dias  

conscientização do autismo no mundo
conscientização do autismo no mundo

Abril é o mês da conscientização do autismo no mundo. Entre várias características e necessidades que cercam o espectro, coloca-se a questão do que nossas cidades têm feito para se tornarem mais inclusivas. Nesta data, é importante para nós arquitetos e urbanistas discutirmos como fazer projetos arquitetônicos, requalificações urbanas e reformas inclusivas para todos.

 

Nossa profissão passa por transformações diárias. Como no caso da pandemia da Covid-19, que transformará a forma de projetar ventilações, fontes de iluminação natural e fluxos de circulação. No caso dos autistas, diversos estudos atestam sua sensibilidade para cores quentes, ruídos agudos, ambientes fechados, comunicação visual confusa e falta de hierarquização dos espaços.

 

Com observação meticulosa e poética, sem preconceitos, é preciso deixar a realidade e o lugar falarem diretamente com o usuário. Privilegiar a experiência, a sensibilidade para com o próximo. Mais do que nunca os projetos de Arquitetura e de Urbanismo devem focar na inclusão pela inserção.

 

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo sempre trabalha suas iniciativas com base na Agenda 2030 e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Destaque-se que a acessibilidade aos autistas está diretamente ligada ao vários desses objetivos:

  • Objetivo 03: Assegurar uma vida saudável e promove o bem estar de todos;
  • Objetivo 09: Construção de infraestruturas resilientes;
  • Objetivo 10: Redução da desigualdade entre as pessoas;
  • Objetivo 11: Tornar cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;
  • Objetivo 16: Promover sociedades pacíficas e inclusivas para um desenvolvimento sustentável.

Observando as necessidades especiais que os autistas apresentam diante dos projetos, percebe-se que essas preocupações não beneficiam apenas aqueles que estão no espectro, mas todos os usuários. Qual escola não necessitária de zonas urbanas menos ruidosas? Qual usuário não se sentiria melhor em ambientes hierarquizados, pensados racionalmente por meio de organogramas e fluxogramas? Quem não deseja calçadas conexas ou transportes públicos sem ruídos e aglomeração?

 

Pensar o ambiente construído para os autistas, tanto na escala arquitetônica como na escala urbanística, é um fazer holístico: ao contemplar as necessidades do espectro autista, o arquiteto atinge todos os tipos de usuários. Dos habilidosos àqueles com dificuldades de locomoção; dos surdos aos ouvintes; das crianças aos idosos. Projetos arquitetônicos não podem ser perfunctórios, precisam vim carregados de sensibilidade, inclusão e principalmente respeito aos usuários.

 

O Dia Mundial de Conscientização do Autismo, assim, reforça essa lembrança: que a inclusão esteja todos os dias em nosso trabalho. Afinal, somos todos uma só comunidade!

 

Nikson Dias é pai do Miguel e Conselheiro Federal CAU/BR.

A empregabilidade da arquitetura vernacular no estilo contemporâneo

Arq. Urb. Ygor Martins

Por Ygor Martins*

No Brasil, devido à dimensão continental de terras e quantidade de habitantes, há grande diversidade de características regionais como clima, relevo e vegetação. Destaca-se também a multidiversidade cultural, que revela estilos construtivos, estéticos e culinários. Cada região do Brasil possui a própria identidade que se adaptou ao longo de anos às peculiaridades locais, e assim nasceram características únicas dos povos que habitam determinado espaço, tempo e lugar, ou seja, as características vernaculares.

Elementos vernaculares, ou elementos tradicionais, espelham características típicas da população e região, criando uma imagem honesta do povo e da cultura. A arquitetura vernacular, em consequência, é representada pelos materiais, técnicas, estilos e demais especificidades que representam a população de determinada região. De acordo com Eduardo (s.d) “A chamada arquitetura vernacular está diretamente ligada à percepção de especificidade e de diversidade e diz respeito aos modos de construir em determinadas localidades […] utilizando técnicas passadas de geração em geração.”

Ademais, no campo profissional da arquitetura, técnicas vernaculares são muitas vezes desvalorizadas e não empregadas mesmo quando possam trazer benefícios ao usuário do ambiente. Segundo Sant’Anna (2013), a pouca utilização de métodos construtivos vernaculares por arquitetos e demais profissionais da construção civil promove o antagonismo da população e dos órgãos competentes em relação à empregabilidade, o que gera preocupações quanto à durabilidade e segurança, muitas vezes causadas pelo desconhecimento técnico e não por fatos concretos.

Construções tradicionalmente erigidas por povos locais tendem a ser adaptadas para as características mais relevantes da região, como a temperatura média, a incidência pluvial, a velocidades dos ventos e demais fatores que profissionais da arquitetura levam em consideração quando projetam edifícios. Os métodos tradicionais, portanto, representam formas construtivas que, em geral, garantem o melhor resultado através da utilização de materiais de obtenção local.

Segundo Veloso (1999), as construções vernaculares produzidas sem o auxílio de arquitetos têm, historicamente, apresentado soluções inteligentes para características climáticas em diversas regiões ao redor do mundo, porém este tipo de construção perdeu espaço para o estilo construtivo internacional, baseado em vidro, concreto e aço, em meados do século XX.

Ao contrário do pensamento popular, muitos métodos construtivos vernaculares não são inferiores aos convencionais e, quando bem desenvolvidos, podem prover os mesmos benefícios e onerar menos o construtor. Numa sociedade que corriqueiramente exerce a autoconstrução, a utilização de métodos construtivos menos onerosos e de boa qualidade pode garantir ao cidadão de baixa renda o resultado desejado sem investir em valores altos que, muitas vezes, não dispõe.

De acordo com Eduardo (s.d.), um exemplo de arquitetura vernacular na região norte pode ser encontrado nos povos ribeirinhos que se adaptaram ao relevo e ao clima chuvoso, que promovem o alagamento de grandes áreas, através da construção em palafitas e da utilização de casas flutuantes, demonstrando soluções eficientes para a população tradicional não-indígena. Os métodos construtivos vernaculares se mostram, portanto, como formas adaptadas ao meio e que revelam a sabedoria popular empregada à arquitetura.

A arquitetura vernacular, porém, por decorrência do surgimento através do lento aperfeiçoamento de técnicas e estilo ao longo do tempo, se mostra engessada na forma, o que não permite inovações e aprimoramentos de elementos e, em conjunto com a tradicional utilização de elementos locais, muitas vezes exclusiva, inibe o avanço tecnológico. Para Barda (2007), a arquitetura vernacular não considera a inovação vantajosa e defende que, quando inseridos novos métodos e materiais, o vernáculo se perde e novas tendências tomam seu lugar. O estilo das construções tradicionais é único e imutável, porém a aplicação deste estilo revela resultados variados nas obras.

Cabe a nós, portanto, profissionais e estudiosos da construção, a análise e a experimentação para nos certificarmos que os diversos métodos construtivos que temos à nossa disposição se adequem aos diversos usos e necessidades que precisamos suprir. Em posse de dados que nos permitam especificar as técnicas mais adequadas aos nossos objetos, obtemos resultados de qualidade, com custos reduzidos e preservamos das características culturais da região. Respeitar as peculiaridades regionais, otimizar processos construtivos e garantir o conforto nas nossas obras são conceitos que devemos perseguir sempre. Esse é nosso papel.

*Arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal de Roraima (UFRR); conselheiro suplente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Roraima (CAU/RR).

 

REFERÊNCIAS:

EDUARDO, Agno et al. A Arquitetura Vernacular das 5 Regiões Brasileiras. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul–UFMS, p. 1-19.

SANT’ANNA, Marcia. Arquitetura popular: espaços e saberes. Políticas Culturais em Revista, v. 6, n. 2, p. 40-63, 2014.

VELOSO, Maísa. Adequação da Arquitetura a climas quente e seco: o caso da Arquitetura vernacular do sertão nordestino. 1999.

BARDA, Marisa. A importância da arquitetura vernacular e dos traçados históricos para a cidade contemporânea. 2007. 154 f. Dissertação (Mestrado – Área de Concentração: História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

A sustentabilidade na arquitetura e no urbanismo

 Por Pedro Hees*

Há muitos questionamentos sobre as possibilidades de soluções ou tecnologias sustentáveis na arquitetura e urbanismo, com o desconhecimento de novas alternativas que tornam mais econômicas o dia-a-dia das construções.

Equipamentos e tecnologias que surgem trazendo soluções adequadas aparecem a cada dia, muitos causando estranheza por falta de informação. Contratar profissionais com os devidos conhecimentos irá colaborar na eficiência do espaço construído, seja sua própria residência, conquistando o sonho da casa própria ou seu espaço de trabalho, convívio ou lazer.

A utilização dessas alternativas depende sempre do local onde se pretende erguer a construção, como o terreno a ser ocupado, os afastamentos exigidos pela legislação local, os métodos construtivos a serem utilizados e soluções sustentáveis que irão gerar o conforto e economia necessária, mais ainda em tempos de crise econômica.

O “simples” fato de erguer a construção, suspensa do solo, permitindo a circulação de vento também na parte inferior da edificação causa muita estranheza e ainda bastante preconceito. Soluções estas utilizadas por população de baixa renda, ribeirinhos da região amazônica, utilizam essa cultura há bastante tempo, a fim de evitar alagamentos nas altas dos rios e igarapés em tempos de chuva, proporcionando “involuntariamente” conforto térmico em suas residências.

Essas técnicas locais e muitas outras foram percebidas e identificadas por um grande nome na arquitetura na Amazônia. Severiano Mario Porto, formado pela Universidade do Rio de Janeiro, mudou-se, a convite para Manaus, onde percebeu soluções eficientes nas construções mais modestas, onde utilizou essas técnicas em suas obras e foi reconhecido internacionalmente com sua arquitetura singular e inovadora.

O cavaco como cobertura se mostrou eficiente no conforto ambiental no interior de suas obras, em conjunto com esquadrias em venezianas moveis onde se controla a ventilação desejada, visto no complexo de Balbina–AM, de autoria de Severiano, infelizmente deteriorado pelo descaso e falta de manutenção.

 Grandes beirais impedindo a incidência solar nas alvenarias e o aproveitamento máximo das condições climáticas de nossa região de clima tropical úmido são algumas das soluções encontradas por este brilhante profissional.

Hoje, algumas alternativas são utilizadas, muitas proporcionando a eficiência almejada outras sem tanto sucesso. Coberturas verdes estão sendo cada vez mais vistas em nossa região, impedindo a transferência direta de calor para a edificação, possibilitando a captação de água da chuva para utilização em esgotamentos sanitários ou mesmo aguar o jardim em épocas menos chuvosas. Muitas vezes essas soluções utilizadas independente de demais outras soluções não darão o resultado almejado na edificação.

Fácil percebemos que simples e costumeiras soluções encontradas aqui dão o conforto procurado, como a utilização de coberturas em palha de buritis ou outras palmeiras, quando bem instaladas e com utilização de materiais adequados, tem longa durabilidade, necessitando sempre de manutenção como qualquer outra construção.

A utilização de “pau-a-pique” vista em muitas construções no sertão nordestino são eficientes na absorção do calor externo não transferindo para o interior. Esta técnica é eficiente numa região árida, e se tornaria ineficiente na Amazônia pelo alto índice pluviométrico. O uso de aditivos e outros tantos materiais já foram utilizados mostrando adequadas e resistentes soluções.

O aproveitamento da iluminação natural de forma adequada, sem a insolação direta dos ambientes aliada ao aproveitamento da ventilação natural é uma alternativa para a redução do custo de energia elétrica, evitando a utilização de climatizadores. Os surgimentos de vidros com películas internas ou esquadrias com vidros duplos melhoram a temperatura interna bem como a absorção de ruídos externos.

A captação de energia elétrica com painéis solares está sendo vistos a cada dia, com ampla utilização em comércios e residências, reduzindo significativamente as contas de energia, bem como as lâmpadas e luminárias em led, hoje facilmente encontradas no comercio local. Muitas concessionárias de energia do país já estão incentivando a utilização desses equipamentos, inclusive propondo a compra da energia produzida e não utilizada nas unidades, porem, ainda com custos elevados para implantação em grande escala.

Em Boa Vista, em particular, vemos muitas alternativas sustentáveis involuntárias na urbanização da cidade, com o plantio de arvores em terrenos, proporcionando microclimas individuais, que em conjunto colaboram na melhoria do conforto térmico das ruas. Podemos perceber o quão a cidade é arborizada quando sobrevoamos nossa capital ou mesmo ao simples fato de nos afastarmos das aglomerações urbanas, observando a paisagem natural do entorno da cidade.

O papel do arquiteto e urbanista esta sendo, a cada dia, vivenciado, mas ainda muitas vezes despercebido. O espaço que habitamos, a sala que recebemos os amigos, os quartos que repousamos, a cozinha que preparamos simples tira-gostos ou requitadas refeições, o convívio no trabalho com circulações adequadas e espaços ergonomicamente corretos, as ruas que trafegamos ou as calçadas utilizadas para caminhadas ou exercícios, sempre terá a presença de um arquiteto e urbanista.

 

*Especialista em Reabilitação Ambiental, Sustentável e Arquitetônica (UnB); Arquiteto e Urbanista formado pela Bennett(RJ); e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Roraima (CAU/RR).