A sustentabilidade na arquitetura e no urbanismo

 Por Pedro Hees*

Há muitos questionamentos sobre as possibilidades de soluções ou tecnologias sustentáveis na arquitetura e urbanismo, com o desconhecimento de novas alternativas que tornam mais econômicas o dia-a-dia das construções.

Equipamentos e tecnologias que surgem trazendo soluções adequadas aparecem a cada dia, muitos causando estranheza por falta de informação. Contratar profissionais com os devidos conhecimentos irá colaborar na eficiência do espaço construído, seja sua própria residência, conquistando o sonho da casa própria ou seu espaço de trabalho, convívio ou lazer.

A utilização dessas alternativas depende sempre do local onde se pretende erguer a construção, como o terreno a ser ocupado, os afastamentos exigidos pela legislação local, os métodos construtivos a serem utilizados e soluções sustentáveis que irão gerar o conforto e economia necessária, mais ainda em tempos de crise econômica.

O “simples” fato de erguer a construção, suspensa do solo, permitindo a circulação de vento também na parte inferior da edificação causa muita estranheza e ainda bastante preconceito. Soluções estas utilizadas por população de baixa renda, ribeirinhos da região amazônica, utilizam essa cultura há bastante tempo, a fim de evitar alagamentos nas altas dos rios e igarapés em tempos de chuva, proporcionando “involuntariamente” conforto térmico em suas residências.

Essas técnicas locais e muitas outras foram percebidas e identificadas por um grande nome na arquitetura na Amazônia. Severiano Mario Porto, formado pela Universidade do Rio de Janeiro, mudou-se, a convite para Manaus, onde percebeu soluções eficientes nas construções mais modestas, onde utilizou essas técnicas em suas obras e foi reconhecido internacionalmente com sua arquitetura singular e inovadora.

O cavaco como cobertura se mostrou eficiente no conforto ambiental no interior de suas obras, em conjunto com esquadrias em venezianas moveis onde se controla a ventilação desejada, visto no complexo de Balbina–AM, de autoria de Severiano, infelizmente deteriorado pelo descaso e falta de manutenção.

 Grandes beirais impedindo a incidência solar nas alvenarias e o aproveitamento máximo das condições climáticas de nossa região de clima tropical úmido são algumas das soluções encontradas por este brilhante profissional.

Hoje, algumas alternativas são utilizadas, muitas proporcionando a eficiência almejada outras sem tanto sucesso. Coberturas verdes estão sendo cada vez mais vistas em nossa região, impedindo a transferência direta de calor para a edificação, possibilitando a captação de água da chuva para utilização em esgotamentos sanitários ou mesmo aguar o jardim em épocas menos chuvosas. Muitas vezes essas soluções utilizadas independente de demais outras soluções não darão o resultado almejado na edificação.

Fácil percebemos que simples e costumeiras soluções encontradas aqui dão o conforto procurado, como a utilização de coberturas em palha de buritis ou outras palmeiras, quando bem instaladas e com utilização de materiais adequados, tem longa durabilidade, necessitando sempre de manutenção como qualquer outra construção.

A utilização de “pau-a-pique” vista em muitas construções no sertão nordestino são eficientes na absorção do calor externo não transferindo para o interior. Esta técnica é eficiente numa região árida, e se tornaria ineficiente na Amazônia pelo alto índice pluviométrico. O uso de aditivos e outros tantos materiais já foram utilizados mostrando adequadas e resistentes soluções.

O aproveitamento da iluminação natural de forma adequada, sem a insolação direta dos ambientes aliada ao aproveitamento da ventilação natural é uma alternativa para a redução do custo de energia elétrica, evitando a utilização de climatizadores. Os surgimentos de vidros com películas internas ou esquadrias com vidros duplos melhoram a temperatura interna bem como a absorção de ruídos externos.

A captação de energia elétrica com painéis solares está sendo vistos a cada dia, com ampla utilização em comércios e residências, reduzindo significativamente as contas de energia, bem como as lâmpadas e luminárias em led, hoje facilmente encontradas no comercio local. Muitas concessionárias de energia do país já estão incentivando a utilização desses equipamentos, inclusive propondo a compra da energia produzida e não utilizada nas unidades, porem, ainda com custos elevados para implantação em grande escala.

Em Boa Vista, em particular, vemos muitas alternativas sustentáveis involuntárias na urbanização da cidade, com o plantio de arvores em terrenos, proporcionando microclimas individuais, que em conjunto colaboram na melhoria do conforto térmico das ruas. Podemos perceber o quão a cidade é arborizada quando sobrevoamos nossa capital ou mesmo ao simples fato de nos afastarmos das aglomerações urbanas, observando a paisagem natural do entorno da cidade.

O papel do arquiteto e urbanista esta sendo, a cada dia, vivenciado, mas ainda muitas vezes despercebido. O espaço que habitamos, a sala que recebemos os amigos, os quartos que repousamos, a cozinha que preparamos simples tira-gostos ou requitadas refeições, o convívio no trabalho com circulações adequadas e espaços ergonomicamente corretos, as ruas que trafegamos ou as calçadas utilizadas para caminhadas ou exercícios, sempre terá a presença de um arquiteto e urbanista.

 

*Especialista em Reabilitação Ambiental, Sustentável e Arquitetônica (UnB); Arquiteto e Urbanista formado pela Bennett(RJ); e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Roraima (CAU/RR).

 

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